ENCONTRO COM O BOM MOCISMO
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Eu gosto da
Fátima Bernardes como profissional, alguém que aceita desafios, com muita
classe e é um exemplo de mulher contemporânea.
Não gostei
da hipocrisia reinante no seu programa.
Na verdade,
a burguesia sempre tem esses rasgos de hipocrisia, ou nivelando por baixo, aproveito
a fala de um mitológico roqueiro que diz que a burguesia fede.
Inicialmente,
lembrei-me da fala de meu guri de 14 anos que declarou na onisciência de seus
saberes adolescentes ter enxergado que a Globo, na sua onipotência, quer atrair
os pobres para desempenhar as tarefas domésticas, serem empregados domésticos.
(“Quem vai recolher o cesto do
banheiro se agora todo mundo quer ter diploma universitário?).”.
Sim, é isso
mesmo, mostrar casos isolados de gente que largou outra fonte de renda para
ficar com o emprego de diarista.
A médica disse
que paga plano de saúde para sua empregada e libera-a todo final de semana para
namorar.
Outro bom
moço, representante das empregadas domésticas afirmando que médicos
domiciliares podem ser conceituados como empregados domésticos, afinal de
contas, sob o olhar da Justiça, que é imparcial, empregado doméstico é o que
presta serviços domésticos.
Assim,
eliminando as hipóteses e as variáveis, se o médico vai à residência de alguém,
medir a sua pressão, ele está prestando um serviço doméstico.
Eu não gosto
dessa mania de ficar colocando empregada doméstica como santa, como coitadinha.
Certa vez,
tive uma empregada que acho ter sido plantada na minha casa pelos desafetos, que
me arrumou problemas dizendo sandices a meu respeito.
E a outra,
com uma semana de trabalho, me levou no Ministério do Trabalho para receber
direitos trabalhistas por esse período de trabalho.
Sorte que
existe jeitinho brasileiro, ficando convencionado que eu nada devia, por
usufruir da possibilidade de registrar a funcionária com pelo menos um mês de
experiência, e ainda deu uma bronca nela:
__A senhora
quer “sujar” sua carteira com uma semana de registro? Que patrão vai querer
admiti-la depois disso?
A criatura
foi embora sem nem um centavo e se olhar matasse, eu cairia fulminada.
Já tive
empregada que varria os pertences de valor (canetas, carregadores de celular,
até mesmo roupas novas que ela jogava no chão do quarto, meus brincos, moedas,
e recolhia tudo em sacolas separadas e ao levar o lixo para a rua, colocava o
lixo e levava embora as sacolas com os pertences de valor).
Consegui
provas deixando uma nota de cinquenta reais debaixo de um livro na estante no
dia que as crianças não estavam em casa e esse dinheiro sumiu sem deixar
rastros.
Ao ser
questionada, tirou o dinheiro da bolsa com a maior cara de pau e me disse que
achava ser uma nota sem valor comercial, como aqueles dinheirinhos do 1,99 e
que tinha achado jogado e ia levar para os seus filhos brincarem.
Histórias
cabeludas eu tenho muitas.
Creio ser
uma empregada doméstica um profissional como qualquer outro, que pode deixar
sua casa limpa nos dois sentidos, dependendo da índole.
Penso ser
patética a história de três empregadas que conseguiram fama e fortuna cantando e
dançando.
Há registros
históricos que demonstram serem as babás dos sinhozinhos as inventoras de
clássicos como “nana nenê”, e outras joias do nosso repertório musical popular.
Africanos
são musicais, brasileiros, pela miscigenação se tornaram pessoas muito artísticas.
Mas Arte não
compra comida.
Quando fazia
teatro amador, o máximo que eu conseguia com o meu parceiro artístico, que era homossexual,
eram alimentos não perecíveis que doávamos para creches.
E desde a
lama do dilúvio eu sempre gostei muito de cantar, acho lamentável não ter mais
voz para isso.
Se os
direitos das empregadas domésticas forem reconhecidos como os de quaisquer
outros profissionais, o Brasil deu um passo muito largo em direção a um estágio
evoluído de ser.
Livrou-se em
parte do ranço do escravismo, de conceituar empregados domésticos como
semelhantes a “escravas de dentro” que faziam o serviço para sinhá;
Ao equiparar
os direitos conseguiu uma vitória sobre a democracia e a igualdade de Direitos
e deveres.
Penso ser
importante Fátima levar esse assunto para seu programa.
Mas na
Edição, devem-se cortar expressões como:" Brasileiros, quando vão
trabalhar no exterior, escolhem serviços como domésticos” ou coisas que o
valha.
Brasileiros,
quando vão para o exterior, ficam com serviços braçais, porque as diferenças de
Gênero, poder econômico, tem suas raízes no capitalismo, que opera com o conceito
de exploração do trabalho, para apropriação do capital, numa sociedade
heteronormativa, que estratifica.
E ninguém
quer recolher o cesto do banheiro, para gostar disso, deve-se introjetar a
visão artística de Salvador Dali.
Desejo vida
longa para o programa da Fátima, assim como desejo vida curta para essa
novelinha.
Afinal, zoam
com a cara das domésticas, tirando a seriedade desse ofício que merece ser
reconhecido.
Uma boa empregada
doméstica vale mais do que outro profissional, se pensarmos que na mão dela
ficou o que é mais precioso: os filhos, os pertences, a chave da casa, as
panelas, e até o marido, que se for arraigado ao escravismo, vai querer cama também.
Afinal,
bobagem por bobagem, o calor dos trópicos anima o aparato genital e as
condicionantes do pensamento (inconsciente) histórico-antropológico- econômico,
sexual, social pode confluir nessa conjunção carnal.
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