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sábado, 14 de julho de 2012

Encontro com o bom mocismo


ENCONTRO COM O BOM MOCISMO


Fonte da imagem: 


Eu gosto da Fátima Bernardes como profissional, alguém que aceita desafios, com muita classe e é um exemplo de mulher contemporânea.
Não gostei da hipocrisia reinante no seu programa.
Na verdade, a burguesia sempre tem esses rasgos de hipocrisia, ou nivelando por baixo, aproveito a fala de um mitológico roqueiro que diz que a burguesia fede.
Inicialmente, lembrei-me da fala de meu guri de 14 anos que declarou na onisciência de seus saberes adolescentes ter enxergado que a Globo, na sua onipotência, quer atrair os pobres para desempenhar as tarefas domésticas, serem empregados domésticos.
(“Quem vai recolher o cesto do banheiro se agora todo mundo quer ter diploma universitário?).”.
Sim, é isso mesmo, mostrar casos isolados de gente que largou outra fonte de renda para ficar com o emprego de diarista.
A médica disse que paga plano de saúde para sua empregada e libera-a todo final de semana para namorar.
Outro bom moço, representante das empregadas domésticas afirmando que médicos domiciliares podem ser conceituados como empregados domésticos, afinal de contas, sob o olhar da Justiça, que é imparcial, empregado doméstico é o que presta serviços domésticos.
Assim, eliminando as hipóteses e as variáveis, se o médico vai à residência de alguém, medir a sua pressão, ele está prestando um serviço doméstico.
Eu não gosto dessa mania de ficar colocando empregada doméstica como santa, como coitadinha.
Certa vez, tive uma empregada que acho ter sido plantada na minha casa pelos desafetos, que me arrumou problemas dizendo sandices a meu respeito.
E a outra, com uma semana de trabalho, me levou no Ministério do Trabalho para receber direitos trabalhistas por esse período de trabalho.
Sorte que existe jeitinho brasileiro, ficando convencionado que eu nada devia, por usufruir da possibilidade de registrar a funcionária com pelo menos um mês de experiência, e ainda deu uma bronca nela:
__A senhora quer “sujar” sua carteira com uma semana de registro? Que patrão vai querer admiti-la depois disso?
A criatura foi embora sem nem um centavo e se olhar matasse, eu cairia fulminada.
Já tive empregada que varria os pertences de valor (canetas, carregadores de celular, até mesmo roupas novas que ela jogava no chão do quarto, meus brincos, moedas, e recolhia tudo em sacolas separadas e ao levar o lixo para a rua, colocava o lixo e levava embora as sacolas com os pertences de valor).
Consegui provas deixando uma nota de cinquenta reais debaixo de um livro na estante no dia que as crianças não estavam em casa e esse dinheiro sumiu sem deixar rastros.
Ao ser questionada, tirou o dinheiro da bolsa com a maior cara de pau e me disse que achava ser uma nota sem valor comercial, como aqueles dinheirinhos do 1,99 e que tinha achado jogado e ia levar para os seus filhos brincarem.
Histórias cabeludas eu tenho muitas.
Creio ser uma empregada doméstica um profissional como qualquer outro, que pode deixar sua casa limpa nos dois sentidos, dependendo da índole.
Penso ser patética a história de três empregadas que conseguiram fama e fortuna cantando e dançando.
Há registros históricos que demonstram serem as babás dos sinhozinhos as inventoras de clássicos como “nana nenê”, e outras joias do nosso repertório musical popular.
Africanos são musicais, brasileiros, pela miscigenação se tornaram pessoas muito artísticas.
Mas Arte não compra comida.
Quando fazia teatro amador, o máximo que eu conseguia com o meu parceiro artístico, que era homossexual, eram alimentos não perecíveis que doávamos para creches.
E desde a lama do dilúvio eu sempre gostei muito de cantar, acho lamentável não ter mais voz para isso.
Se os direitos das empregadas domésticas forem reconhecidos como os de quaisquer outros profissionais, o Brasil deu um passo muito largo em direção a um estágio evoluído de ser.
Livrou-se em parte do ranço do escravismo, de conceituar empregados domésticos como semelhantes a “escravas de dentro” que faziam o serviço para sinhá;
Ao equiparar os direitos conseguiu uma vitória sobre a democracia e a igualdade de Direitos e deveres.
Penso ser importante Fátima levar esse assunto para seu programa.
Mas na Edição, devem-se cortar expressões como:" Brasileiros, quando vão trabalhar no exterior, escolhem serviços como domésticos” ou coisas que o valha.
Brasileiros, quando vão para o exterior, ficam com serviços braçais, porque as diferenças de Gênero, poder econômico, tem suas raízes no capitalismo, que opera com o conceito de exploração do trabalho, para apropriação do capital, numa sociedade heteronormativa, que estratifica.
E ninguém quer recolher o cesto do banheiro, para gostar disso, deve-se introjetar a visão artística de Salvador Dali.
Desejo vida longa para o programa da Fátima, assim como desejo vida curta para essa novelinha.
Afinal, zoam com a cara das domésticas, tirando a seriedade desse ofício que merece ser reconhecido.
Uma boa empregada doméstica vale mais do que outro profissional, se pensarmos que na mão dela ficou o que é mais precioso: os filhos, os pertences, a chave da casa, as panelas, e até o marido, que se for arraigado ao escravismo, vai querer cama também.
Afinal, bobagem por bobagem, o calor dos trópicos anima o aparato genital e as condicionantes do pensamento (inconsciente) histórico-antropológico- econômico, sexual, social pode confluir nessa conjunção carnal.


















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