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sexta-feira, 9 de julho de 2010

O horror, o horror

O horror, o horror




Não gosto de escrever sobre a barbárie. A impressão que causa é que estou fazendo parte da horda sensacionalista que explora o infeliz caso dessa moça ingênua e apaixonada por atletas do futebol e esse ser monstruoso que inflingiu a pior dor aquela que um dia ao se relacionar com ele, concebeu e gerou dele..

Mas preciso falar do horror.

Talvez a dor passe se eu contar um pouquinho do que eu sei sobre a barbárie que é cometida contra a mulher.

Existe uma pseudo libertação da mulher do julgo escravista a que era submetida desde os primórdios da sociedade paternalista.

Mas hoje, o horror me mostra que é tudo muito igual.

Sem voz nem vez, as mulheres continuam a lutar pelos seus direitos, sobrecarregadas de seus deveres.

Defasagem de salários, condições injustas de negociação nesse mundo que é essencialmente masculino.

E quem é vítima dessa barbárie?

Todas as mulheres em maior ou menor grau.

Imagino a aflição daquela moça, indefesa e eu de certa forma, sem querer me expor, sou alvo da barbárie que se comete na Educação;

O que as vezes, se escreve sobre mim, de forma injusta e cruel, me conferindo um status que eu não tenho: o de não ser fiel ao meu ofício e nem o de fazer jus as minhas atribuições.

E são atos de covardia, como me tirar da sala de aula e me colocar num cargo administrativo numa biblioteca e me mandar limpar as prateleiras e o chão.

Como a Secretaria de Estado da Educação, ao me tirar o ganha pão porque eu não pude ir trabalhar em São Paulo, me dando todo tipo de prejuízo.

Sim, porque no passado, antes de conseguir me formar como Professora eu trabalhava como faxineira. E não tenho vergonha disso.

Até hoje, divido o meu tempo na educação com as tarefas do meu lar.

Toda mulher tem uma faxineira dentro de si. Afinal, quando a empregada falta quem vai fazer o serviço?

Isso de fato aconteceu. Mas já passou.

È um subproduto do imaginário coletivo sobre a Identidade cristalizada.

E voltando ao caso de Samudio, há quem ainda levante o dedo acusatório para ela, colocando como hipótese a paternidade do bebê.

Haverá quem a defina como culpada, por ter tentado dar o “golpe da barriga”?

Toda essa postura que a sociedade organizada adotará, não devolverá ao bebê a sua mãe;

E eu, que amamento, fico querendo esquecer, e me pergunto: será que a criança ainda era amamentada?

A dor, a subjugação, a humilhação dessa moça também é um pouco minha.



Do imaginário coletivo vão brotar expressões como as que eu li num twitter: “Eliza Samudio era gente da pior espécie, mas nada justifica o que foi feito com ela.”

Como no caso do estupro, a mulher sofre a violência e ainda é culpada.

Se eu pudesse falar algo aos avós do bebê, eu diria a eles:

Quando ela estava sozinha, gerando o filho do atleta, alguém se importou com ela? Alguém a procurou?

O que disse seu pai? Trate de resolver essas coisas logo.

Agora, com ela morta, a barbárie consumada, todos querem cuidar da criança.

Trocar o seu nome, inclusive.

Ao invés de ficarem brigando nos tribunais, se unam e aliviem o peso do fardo dessa criança, que já tem uma história de horror marcando sua vida.

E ao goleiro eu diria que segurar a Bíblia agora não vai diminuir a dor que voc~e causou.

E é só.

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