Alfabetizando
Teoria de Luiz Carlos Cagliari e prática de Patrícia
O distanciamento entre o que preconiza a teoria e o que acontece na prática é absolutamente imenso.
De um lado, temos Cagliari, com todas as suas críticas sobre as cartilhas. A ênfase de sua crítica é dizer que cartilha vem de carta, e que tinha o direcionamento religioso dos jesuítas a fim de inculcação ideológica.
Do outro lado, temos Capovilla que critica fortemente o que foi feito do construtivismo em terra brasilis, adotando a “alfabetização construtivista “ de Piaget e que é um mecanismo perverso para formar analfabetos funcionais.
Ainda de outro lado, temos Kátia, professora tutora da SME de Assis que afirma, com ênfase, que o professor ou é construtivista ou fonético.
Ainda de outra ponta da linha, está Onaide S. Mendonça, que foi minha professora e de quem aprendi as teorias de Paulo Freire sobre a alfabetização e a palavra geradora.
E desse lado estou eu, que acho fascinante alfabetizar e que nem quando estou de férias consigo relaxar e descansar.
E ainda de um último lado, temos Lourdes Rodelling, Supervisora da SME de Assis, que resolveu me crucificar e dizer que não tenho perfil para alfabetizar.
Mesmo depois de ter alfabetizado a maioria das crianças do Pré III, com a ajuda de Marcos Hailler, projetos maluquinhos e fontes paradidáticas.
E no meio de toda essa confusão, temos os alunos, nossos queridos alunos e alunas.
Temos a Gisele* que não quer registrar conteúdos, começou o ano no pré silábico e está no mês de Julho com o silábico sem valor sonoro.
Temos o Kaíque* com a mesma situação da Gisele que também registra o que quer, na hora que quer, podendo vir diretora, coordenadora, estagiário, corpo de bombeiro e polícia que ele dá de ombros e grita esganiçado: “que qui é, hein?”
Temos a Silmara*, cuja letra garranchal passeia alegremente pelo caderno e é extremamente copista, há dois bimestres no nível silábico sem valor sonoro.
E a Mariana*, lindinha, cujo caderno é um mimo, mas que não avança de nível há exatamente dois bimestres.
Copiar, copia, mas não entende o conteúdo e não muda de nível.
O que fazer com essas crianças?
O Projeto Ler e Escrever tem sido bom na sala de aula, mas a metodologia utilizada faz com que a aplicação do mesmo fique muito lenta.
O que dizem?
Importa a forma como as crianças aprendem e não o conteúdo pelo conteúdo.
Importa o que tem por trás da sopa do neném.
Quando Cagliari afirma que a alfabetização passou a ser vista como questão de sobrevivência em todos os níveis da sociedade, como explicar o grande número de analfabetos funcionais que povoam o nosso querido e não tão alfabetizado país?
E ele sintetiza que os livros didáticos impediram a ação personalizada dos professores, passando a ser prejudiciais.
Então, nesse momento histórico vem um tal projeto que nos diz como fazer, o que fazer e de que forma fazer. (????????)
Continua o autor a dizer que o duelo dos métodos foi trágico, pois tirou do professor a autoridade, o controle, a administração do como fazer e porque fazer.
Num replanejamento recente, uma professora pergunta-nos porque decidimos ser professores e ninguém respondeu algo muito profundo.
Eu pensei assim:
__ Decidi ser professora porque é muito emocionante ensinar algo a alguém.
Receber conhecimento, assimilá-lo e multiplicá-lo.
Mas triste, me calei.
E quando eu não agüentava mais, eu perguntei a professora ministradora do curso porque há tanta resistência até por parte dos professores aceitar a matemática do cotidiano do profº Bigode e porque os pais não entendem que o mundo mudou e que os filhos deles tem uma outra forma de aprender e que os professores tem uma outra forma de ensinar?
E qual a dimensão da Matemática no cotidiano?
Lembrei também que o homem entendeu que não tem cabimento sair por aí com um saco de pedrinhas nas costas para fazer as suas barganhas e inventaram o algoritmo,e o velho e bom dinheiro.
Percebi que ficou nervosa com a minha pergunta, mas não estamos numa democracia?
Posso perguntar, pois perguntar não ofende.
Cagliari diz: “Tiraram a competência do professor.”.
Grande sujeito, o Paulo Freire! Cagliari afirma que ele queria mesmo era alfabetizar, não queria saber de rotular os métodos.
Oh, sim e método é ferramenta e um bom artista com uma ferramenta inadequada não consegue bons resultados.
E tristemente se constata que todos os materiais, inclusive os PCN só dão ao professor o método.
Mas ele/ela deve ter autonomia para administrar a sua aula e dar a cada terra a semente certa.
Mas alguns diretores e diretoras ainda são do tempo que o caderno do aluno/aluna deve ser certinho, sem orelhas e com letra pedagógica e o método certo é o BA BE BI BO BU.
Quando Cagliari afirma que ninguém precisa escrever nada na vida se não quiser, o que importa é saber ler, imagino que seria um precursor de escândalos se fosse professor do Ciclo I.
Então, posso absolver a Gisele e o Kaíque, e dar a eles a semente certa.
Atividades diferenciadas todos os dias, o uso do alfabeto móvel, atividades lúdicas de alfabetização divertida, listas, trabalho com o nome próprio, e se precisar o método fônico ou a palavra geradora, que chamo de mágica, pois é mais apropriado.
E lhe agradeço Onaide, porque a Samanta* passou do nível silábico de valor sonoro para o silábico alfabético num espaço de um mês, pois eu utilizei algumas palavras geradoras.
Claro que o método bom é o que traz resultado e apesar das críticas de Cagliari, algumas atividades do projeto Ler e Escrever tem alavancado o processo do ensino aprendizagem da minha turminha.
Eu preciso ter autonomia e estar no controle.
Todas as professoras alfabetizadoras precisam ter um pouco mais de autonomia e poder assumir o controle de suas salas de aula.
Para finalizar, os nomes das crianças são fictícios, e eu não achei mal colocar alguns nomes como são, pois afinal não estou ofendendo ninguém.
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