Vila Mulher

Blog VilaMulher
O Portal da Mulher

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Não me fale mal da poesia


Da caixa de ferramentas




Bem, está correto. Na matéria do Caderno Cotidiano, 27/04/10. Folha de São Paulo, Alves esclareceu o pensamento sem dizer para as pessoas que ficarão inúteis porque vão ficar velhas.

Rubem Alves diz que escreveu textos que hoje lhe causa estranhamento e se vê como uma pessoa melhor.

Mas em uma análise crítica, a margem do respeito é considerar que a velhice traz uma beleza serena em saber que conseguiu passar por todas as adversidades e estar ali, com os cabelos branquinhos, aconselhando filhos e netos ou dando muito trabalho para eles.

Não considero a velhice uma inutilidade.

Penso que temos que aprender muito com os velhinhos, até para se lembrar que um dia, nós também estaremos ali, dependendo das pessoas mais jovens até para tomar um banho;

Não considero a poesia inútil. Numa noite de primavera, adolescente, em que a tristeza tomava conta da minha alma a Professora Iracema Caobianco me fez renascer com uma poesia de Cecília Meireles que falava sobre as mãos.





Canção





Pus o meu sonho num navio

e o navio em cima do mar;

- depois, abri o mar com as mãos,

para o meu sonho naufragar





Minhas mãos ainda estão molhadas

do azul das ondas entreabertas,

e a cor que escorre de meus dedos

colore as areias desertas.





O vento vem vindo de longe,

a noite se curva de frio;

debaixo da água vai morrendo

meu sonho, dentro de um navio...





Chorarei quanto for preciso,

para fazer com que o mar cresça,

e o meu navio chegue ao fundo

e o meu sonho desapareça.





Depois, tudo estará perfeito;

praia lisa, águas ordenadas,

meus olhos secos como pedras

e as minhas duas mãos quebradas



A partir dessa poesia ela fez uma reescrita, criando outra poesia, “As minhas mãos nas tuas mãos” que lembrava a ela o vínculo com seu esposo, o amor e a cumplicidade que os unia.

Achei tão bonito existir esse amor perfeito, que renasci e escolhi, do rol de poesias que ela nos mostrou para o meu momento, outra poesia de Cecília Meirelles, Motivo;





Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.



Essa poesia eu tirei da minha caixa de brinquedos, para utilizar como lema para que eu pudesse me tornar uma pessoa melhor eu acreditar em mim um pouco mais, para construir a minha caixa de ferramentas.

Quanto a cumplicidade das minhas mãos nas tuas mãos, eu considero problemático, pois os homens, geralmente, tiram das mulheres mais do que ela podem e querem dar.

Penso que o romantismo faz com que as mulheres enxerguem rosas onde só há espinhos.

Renasço com a poesia e ela é vital.Não me fale mal da poesia.

A poesia, como a arte é essencial e vital.



Renascer com a Poesia



De versos tortos

De versos cansados

De versos vivos

De versos trágicos

Renasci

Aproveitei e frui

Na fruição encontrei

E me encontrei viva

Na minha própria condição humana

Entrevi a minha imortalidade

A minha caixa de brinquedos

Criança

Tem poesias para todos os gostos

Os momentos

Os desgostos

Não me fale mal da poesia

Ela é o meu alimento

Para rir o meu riso

E lamentar o meu lamento
Patrícia Rodrigues

Essa poesia é  minha.Não entendo nada de metrificação de poesia mas componho os meus poemas e as minhas poesias e escrevo pois:
Razão de ser




Escrevo. E pronto.

Escrevo porque preciso

preciso porque estou tonto.

Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece.

E as estrelas lá no céu

Lembram letras no papel,

Quando o poema me anoitece.

A aranha tece teias.

O peixe beija e morde o que vê.

Eu escrevo apenas.

Tem que ter por quê?



Paulo Leminski

Nenhum comentário: