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terça-feira, 1 de setembro de 2009

Helenas


AS DUAS HELENAS


Helena, mulher de Menelau, filha de Zeus e de Leda, irmã gêmea da Rainha Clitemnestra, que foi raptada aos onze anos de idade.
Era considerada a mulher mais bela do mundo.
Na mitologia grega, como diz Pasquale é isso. È isso.
Na vida real são duas Helenas que me decidem a vida. Mulheres.
A minha catequista, Helena Costa, que era bela, morena, de cabelos ondulados e longos. Tinha uma pinta na face esquerda.
Eu nutria um profundo respeito por ela, que sabia de coisas que eu não sabia do misterioso Jesus.
Um dia, Helena apareceu na aula com uma indisfarçável manchinha roxa no pescoço, oculta por um pouco de pasta de dente, ou outra pomada qualquer.
Ponto a menos. Santa com pés de barro.
Desmistificada. E é isso que os homens fazem com as mulheres, desmistificam-nas.
Aos trinta e sete anos de idade, conheci outra Helena. Uma Helena que ajudará a decidir sobre o meu emprego público.
Essa me surpreendeu também, posto que loura, de cabelos longos, parece uma artista de cinema. Voz ligeiramente rouca.
Imponente. Bela.
Eu não fiquei com medo, dada a seriedade da situação.
E também não me cabe mistificar essa Helena. Ela apenas é uma funcionária pública de escalão, que relata coisas da vida de funcionários públicos para seu superior imediato e sugere a eles, os segundos, que peçam exoneração, pois podem ser exonerados.Procuradora.
Helena me diz que não decide, só relata.
Quem decidirá será um homem. O Secretário da Educação. Educação? (!!???).
Outra vez um homem.
E as duas Helenas que ficarão na minha memória, vão ficar lá, lavando e cozinhando, no caso da primeira helena e dando ordens para as criadas, no caso da segunda.
E eu, que não sou helena, sou Patrícia, resgatarei minha origem nobre, por ainda, debaixo de tanta dor, poder tecer a teia do pensamento sensitivo sobre os atos dramáticos que se fazem no palco da vida.
Descobri que a minha querida helena, catequista, teve uma filha com anencefalia.
Deus desmistificado. Como pode ser bom, se permite a uma mulher que falava Dele para as crianças ter uma filha com esse problema?
È para que se manifeste nessa criança a sua Glória, diria a Bíblia.
Não sei se isso aconteceu. Não sei se a criança sarou.
Hoje, como diz Rubem Alves, estou triste.
Ele está triste com o PT. Partido dos Trabalhadores. Eu estou triste com outro PT. Patrícia traída.
Traída pelo imaginário da Democracia e pelo descalabro da Legislação e pela falácia do cumprimento da Constituição, o direito de ir e de vir.
Traída pelas paixões do Estado, que acoberta uns e pune outros. Indevidamente.
Assim, vamos remando o barco, até o Portal.
Fazendo juntos a nossa história e registrando ela na memória.Sem nos conhecermos e sem ao menos sabermos como as decisões que se tomam e as leis que foram criadas interferem tanto na vida uns dos outros.
Fechem-se as cortinas.
Passemos para o próximo Ato.








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