Hoje eu queria ter a sabedoria da Clarice Lispector para escrever um Conto de Natal. De outra forma, sou escriba. Minha mente e minhas mãos me obrigam.
Final de ano, cansaço batendo, velhas esperanças pedindo
para nascer. Mas quem vai nascer se partiu de dentro de si toda a esperança?
Um Conto de Natal que queria escrever seria o de dizer
que a Educação é realmente inclusiva. Queria publicar a fotografia do meu
reizinho, sorrindo, feliz.
Mas estranhamente, seu rostinho está triste. E eu não sei
o que fazer com isso. Lembro-me de toda dor que foram esses anos, 2009,
2010, que eu passei sem salário.
Luz cortada todo mês, água cortada, a tentativa de
suicídio de uma filha. Meu esposo desesperado batendo de porta em porta,
procurando um trabalho. O aluguel atrasando, o armário vazio, a Financeira
atrás do veículo.
Meu marido em sub empregos a dez reais por dia. E eu, indo de vez
em quando na APEOESP de Assis para ver se a advogada de Guarulhos tinha conseguido falar com o Secretário da Educação.
Explicar para ele que eu não podia ir trabalhar em
Guarulhos, que eu tinha filha adolescente e um bebê que estava sendo gerado.
Que eu com tanto título vazio de
significado real, somente a pompa, estava em uma situação de pobreza extrema,
pois o salário de professor é uma lástima.
Mas a advogada, distante, apenas me falou uma vez: “Se
pelo menos uma diretora tivesse falado bem de você”...
Não, elas não falarão bem de mim, jamais. Pois meu olhar
para Educação está revestido de uma força que nasce dos grilhões que cingiram
os tornozelos dos meus antepassados.EU ACREDITO EM UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA.
Passar cinco anos dentro de uma Faculdade para ganhar a
mesma coisa que um funcionário menos graduado (motorista de ônibus, garçom, etc), e não
poder tomar conta nem da própria sala?
São impublicáveis todas as situações de controle
aversivo a que somos submetidas em nome do poder.
Um poder burro, com ranço de escravismo, como se fossemos
escravas do sistema, atreladas a programas de Educação que serviriam melhor
para os filhos da elite.
A advogada nem sequer teve a decência de me avisar que o
Secretário tinha me demitido.Eu, dentro do meu limite que liguei para saber.Não
fiquei sabendo nem a data da minha exoneração.
APEOESP? Sindicato comprometido com a exclusão. Quero que
Bebel venha aqui em casa e veja como meu
nome ficou sujo depois dessa situação.
Não quero diretora falando bem de mim, porque eu não sou
puxa saco. Sou profissional do ensino e entrei na escola para trabalhar. Com
licença, me respeite, sou professora.
Não quero afeto, quero respeito e quero meu salário.
Por falar em abandono, quem me abandonou mesmo foi o meu
salário...
Foi a falta de solidariedade e o respeito a Constituição
que abandonou a mão daquele secretário quando ele me condenou a mim e a meu
filho a fome, a indignidade e a miséria.
E o silêncio dessa criança que me olha, com essa carinha
triste, talvez, sentindo que mamãe está zangada e desiludida.
Mas, infelizmente, esse Conto não tem um final feliz.
Meu filho nasceu com um peso baixo, é muito magro para a
idade dele e cresce lentamente. Consequências da desnutrição, dos poucos
recursos durante a sua gestação.
Ele é esperto e inteligente. Mas ás vezes fica com um
olharzinho triste e me pergunta:
__ Mamãe. Você vai ficar hoje comigo?
Não posso, tenho que dobrar jornada, porque um salário só
e a gente passa fome.
E procurar outra
profissão, para não ficar com aposentadoria de professora.
Outro final triste para esse conto é que talvez possa ser
prejudicada e não poder assumir meu cargo de outro Concurso que fiz e passei na
Prefeitura de Assis.
Não foi um Conto de Natal que eu escrevi.
Apelando para o humor negro, eu contei um conto de
vigário.
Artigo 22? Municipalização da Educação? APEOESP?Educação
inclusiva?
Lembro que há cinco anos atrás, uma moça solteira, sem
filhos e com posses que estava atrás de mim na classificação, conseguiu a
remoção para a Escola de Frutal do Campo.
E eu, em face de todas essas situações difíceis fui
exonerada por abandono de cargo.
A corja do PSDB.
Meu conto de vigário com final triste acabou.
Quem me dera não querer escrever, nem sentir, nem sofrer.
Mas não sou apenas uma professora que passa por essa
desumanidade.
Sou apenas umas das que falam o que acontece com essa
classe tão desunida.
Tenho vergonha da minha profissão. Tenho vergonha desse
país que trata tão mal os professores.
Da Política nem vou falar...
Da Política nem vou falar...
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