O próprio nome já denuncia o lugar comum que estratifica
a mulher negra, objeto de exploração como detentora de um poder sexual de
segunda classe.
É uma deturpação do seriado “Sex and city”, uma bobagem
qualquer sobre americanas solteiras, esbeltas e brancas que admitem seu poderio
sexual e profissional tendo relacionamentos sexuais e afetivos livres de culpas
e carências.
Seria isento de culpa e inofensivo se não tivesse dado
novas crias como essa tremenda bobagem de um brasileiro branco, Miguel
Falabella , que segundo ele mesmo, cresceu nos subúrbios e escreveu essa série
trazendo como personagens principais operárias de baixo status social.
Acredito que é a forma como a Globo encontra para
eternizar a Hegemonia dominante: “Uns mandam , outros obedecem”, “uns mais
iguais do que os outros”.
Há pouco que falar. É um desserviço a formação de jovens
negras que identificaram na Educação um passaporte válido e não utilizarão estratégias
do poder do corpo, a sexualidade extra das negras, o bodum eternizado por Jorge
Amado em suas obras, falando da riqueza dos negros em suas fainas diárias.
Depois da exibição dessa série, a imagem que ficará cristalizada nas mentes
infantis é que a mulher negra tem uma clássica inferioridade em relação a
mulheres brancas, que são bem nascidas e ocupam cargos com mais status.
O referente para as mulheres brancas é importado,
estrangeirizado: Sex and city, o referente para a mulher negra, brasileira de
baixo poder aquisitivo é amalandrado, pejorativo, prostituído, ilegal: sexo e
as negas. (para que servem as negras? Para ocupar a cama de seu Sinhô, até que
o satisfaça, depois são dispensadas, objeto de consumo descartável.
Para que servem as brancas? Para dominar os homens,
enquanto disputam igual por igual o mercado de trabalho, colocando o sexo como
componente extra de domínio exercido por elas.
Referências válidas para acompanhar o assunto é a obra de
Mary Del Priore, Rose Marie Muraro e as pesquisas da Fundação Carlos Chagas
sobre a mulher brasileira.
É necessário também admitir o processo civilizatório
obrigatório que trazem mulheres coloridas falando bem, vestindo bem, mostrando
para o mundo uma capacidade intelectual superior, saindo dos domínios do
rudimentar, do primitivo, que também é parte principal da dinâmica da vida.
Vencem não porque utilizam o corpo como barganha. Mas
vencem porque utilizam o poder cerebral, que é potencializador , já que vem
enriquecido das experiências de vida sofrida, com cunho não necessariamente cama
e mesa.
Esse seriado seria válido se a palavra “nega” não tivesse
seu cunho pejorativo ou se essa bobagem pudesse mostrar os embates sociais
ocorrendo em outros níveis, em outros status que não eternizassem a mulher
negra como objeto sexual, objeto de cama e mesa dos sinhozinhos.
Falabella é um sinhozinho. Observa com condescendência e
com enfado suas criaturas: “cresci no subúrbio, na malandragem do subúrbio, entre
lavadeiras, não sou racista”.
Essa fala é contraditória e denuncia suas intenções:
cresci entre a malandragem: mulheres negras seriam malandras, oferecendo o sexo
como objeto de poder e prazer, já que estão destituídas de poderio econômico e
social, já que são lavadeiras?
Blecaute, a Globo deveria sair do ar, diriam minhas
irmãzinhas negras , empoderadas e sabedoras da violência simbólica que traz esse
desserviço.
Not the blackout, say
white women, empowered social eternal. Let the sex as a domain. Sex
and the city.
Falabella conseguiu o que queria: sua série está em
destaque, matéria da mídia, usou mais uma vez as “negas” para ganhar dinheiro
de forma inteligente.
Fala de Falabella na íntegra
Fonte
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/09/1514411-seriado-sexo-e-as-negas-e-investigado-por-racismo.shtml?cmpid=%22facefolha%22
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