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domingo, 13 de julho de 2014

É UM TAL DO MEU PEITO DOER, SOBRE FUTEBOL E SAMBA




Fonte:  http://tvcultura.cmais.com.br/metropolis/martinho-da-vila-metropolis-extra


Minha Identidade cultural formou-se  também ao pé do rádio escutando sambas de Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Beth de Carvalho, Clara Nunes entre outros.
Escutando as transmissões de Copa do Mundo de Fiori Giglioti.
Vejo-me menina, de cabelos encaracolados, ensaiando meus primeiros passos de samba e querendo jogar futebol com meus irmãos no campinho do sítio onde morávamos.
Todo esse valor, o de ser brasileira, emaranhava-se nos cachos de meus cabelos e traduzia-se na morenice da minha pele.
Um pouco antes, na casa de meu avô preto, mais de dois metros de altura, um sorriso de dentes exageradamente brancos, via pela TV uma transmissão de Copa do Mundo e me recordo claramente que Pelé marcou um gol.
Nesse instante, disse que iria torcer pelo Brasil, que seria meu time de coração e verdade. Mas entre risos, esclareceram-me que o Brasil era um time que, formado pelos melhores jogadores disputavam um Campeonato Mundial que era a Copa do Mundo.
Para não perder e não ficar sem graça, perguntei em qual time esse jogador que tinha feito um gol jogava. Falaram-me que era no time do Santos e escutei minha mãe falando que essa cidade tinha praias e que ela não esquecia da única vez que ela tinha ido lá para ver as praias e foi por isso que começou a torcer pelo Santos que era também o time do meu avô.
Estava marcada nesse momento minha Identidade futebolística: Pelé, Santos, Copa do Mundo.
No dia de hoje, no ano de 2014, as memórias voltam e as lágrimas descem silenciosas. Resgate dessa cultura que era tão preciosa a meus olhos, uma grande sensação de perda, como se o Brasil tivesse sido colonizado de novo pela Alemanha.
Leio na Internet que o filho do Pelé, Edinho, foi preso por tráfico de drogas e vai ficar em uma cela comum. Pelé nem apareceu para comentar sobre a Copa do Mundo de 2014.Decadência absoluta.
Volto a realidade e tento estabelecer limites  para essa dor.Vejo um jogador chorando e minha angústia aumenta.
Procuro lidar com isso: a vida se resume entre ganhar e perder, e o importante é competir. A vida continua e Segunda-feira começa tudo de novo.
Essa derrota não me deixou nem mais pobre nem mais rica. Mas feriu algo mais importante que o TER, feriu o SER.
Quem é apegado ao dinheiro, entende mais tarde, no momento da perda da dignidade humana que não é tudo que o dinheiro pode comprar. A Identidade, a essência é algo intangível, sagrado.
Como consolar aqueles meninos que “ninguém avisou que poderiam perder”.
Mas não são vítimas, pelo escândalo abafado, são algozes e formadores de um plano secreto para vender a Copa,porém ninguém quer cogitar tal hipótese.
Pior mesmo é saber que essa derrota foi Fraude. Que fomos vendidos e trocaram por dinheiro, toda uma memória histórica e sentimental da Nação por dinheiro e Poder. Um valor construído através da força física, do sentimento e da memória histórica de milhares de brasileiros sofridos, que se agarram nesses referenciais de valor, o samba, o futebol, a mulata, o não desistir nunca, para continuar lutando e construindo algo que possa permanecer  e que seja intangível, como a Dignidade.
Colonizados, inertes, impotentes.
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Bem, terminou tudo. Fiquei alegre com a vitória da Alemanha. Apesar de Hitler, são humanos, demasiado humanos. Como os brasileiros. Fraude ou não, os jogadores se esforçaram o máximo e foram merecedores do título.
Se venderam o título, como disse um apresentador, “os caras fizeram o que mandaram eles fazer”.

O que é justo nessa vida?

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