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sábado, 10 de dezembro de 2011

A Lei da Mordaça

Um dos instrumentos de tortura na época da escravidão era a mordaça. A negra era conhecida como Princesa Anastácia,e de fato era uma rainha entre os bantos, na época em que foi capturada.
Trazida para o Brasil,estuprada e grávida, começou a ajudar os escravos. Filha de um português com uma escrava, a punição de Anastácia foi a de utilizar uma mordaça para não ajudar os escravos com informações.
Transportando esse fato para as salas de aulas da escola pública, tem-se o fato de uma professora mulata que promove seus alunos sem condená-los a sala de apoio, e ao mandar um e-mail para  uma das dirigentes, é lhe ordenado que pare de mandar e-mails, para não aborrecer mais.
Ninguém quer entender que os alunos e as alunas negras, mulatas ou brancas pobres, filhos e filhas de trabalhadores braçais podem evoluir  cognitivamente e se superar.
Tal professora é obrigada a abaixar as notas dos seus alunos desfavorecidos economicamente,porque os membros da Direção não acreditam que tais alunos sejam capazes de evoluírem cognitivamente.
A essa docente, cabe bem a expressão "você só anda armada".
Sou eu essa professora e ao dizer que ando armada, é porque estou sempre na defesa, porque já entendi que a deslealdade, a mentira, a injúria e a difamação são constantes nas relações de professores.
Cristiano Di Georgi me trouxe a história de Alda, um livro de Marília Carvalho,onde a própria autora mostra      seu preconceito as vezes, contra Alda, mãe solteira e costureira,que ficou muito tempo sem lecionar,porque diziam a ela que seu diploma não valia nada.
A lei da mordaça figurada que faz parte do currículo oculto.
Hoje, ao comprar o meu álbum de formatura, me vejo nas fotografias, mais magra e mais jovem, possivelmente mais bonita.
No rosto a ingenuidade misturada a perplexidade de quem já começa a descobrir coisas do mundo real, desembaraçando-se do senso comum,  e descobrindo coisas perigosas como a eterna e ancestral rivalidade das mulheres nesse mundo doloroso em que a maioria é mulher.
Talvez,no peito a esperança que existe mesmo Alguém que faz Justiça na minha vida.
Sendo eu,sujeito histórico,sei perfeitamente, que, da Anastácia que portava uma mordaça dolorosa, que deformou seu rosto a Patrícia, que é ordenado que se cale, que não envie e-mails para não incomodar, há um rio de sangue, suor, lágrimas e renúncias.
A Anastácia morreu por causa da mordaça. Eu não quero ser amordaçada. Quero lutar pelos meus direitos.
A essa professora cabe o tratamento mais discriminatório  possível, e ela é obrigada a ouvir coisas como o de não ter perfil para assumir sala do primeiro ano, e ela,como efetiva fica sem sala para que as salas do primeiro ano vão para quem tem QI e são eventuais.


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Já é uma esperança, para a mulher cuja ascendência se perdeu numa aldeia africana, não querer usar a mordaça.
E falar, falar pelos cotovelos, porque importa saber que o rio de suor, sangue e lágrimas de meus ancestrais valeram a pena em mim, nas minhas filhas e nas minhas netas.
Isso é que faz esse negócio chamado Educação valer de verdade.
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