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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Cracolândia, a cidade dos mortos vivos

Cracolândia ou a cidade dos mortos vivos




Li uma vez em um livro evangélico de Ellen White, que Satanás vai destruindo o coração da criança primeiro atacando a sua auto-estima e depois a levando para o caminho do mal, quando a criança percebe que nada vale a pena.

Que valores morais não servem para nada, são meras construções humanas para instaurar e fixar o processo civilizatório.

E que as funções de mães, pais e educadores eram impedir que isso acontecesse, porque quando uma criança é entregue aos nossos cuidados nada poderia nos impedir de cuidar dela é nosso dever cuidar para que ela não se desvie do caminho correto.

E vejo pessoas cuidando de resgatar a auto-estima das pessoas que estão entregues a essa situação de morto vivo na cidade do crack, a Cracolândia.

Quando eu comecei a assistir ao programa Profissão Repórter, estava a beira das lágrimas.

Depois, algo antigo começou a se mover dentro de mim.

E me lembrei de uma certa panela de macarrão cozido, temperado com alho que foi dado a uma criança de sete anos por uma vizinha que teve a compaixão de verificar que a menina e seus irmãos estavam com fome.

E havia, dentro daquela comida, uma aranha doméstica, morta, pois a panela havia sido deixada de qualquer jeito em cima do fogão.

A aranha foi retirada e a comida foi devorada.

Lembrei de uma folha de jornal, com letras grandes escritas “São Paulo”, que as mãos infantis utilizaram para embrulhar uma caixa de papelão, com mangas Haden dentro, e que voltaria para São Paulo.

Ali, uma situação de trabalho infantil, que a livrou da indignidade por dar valor ao trabalho que podia comprar um pacote de macarrão fechado para ser cozido em condições de higiene.

E quem sabe um dia, comprar o próprio jornal, cheirando a limpeza e a boa vida.

São Paulo e a cidade dos mortos vivos, onde a pobreza se mistura a riqueza, de um jeito promíscuo e sem vergonha nenhuma.

E que foi os bancos escolares e uma porção e vergonha na cara, valores morais enfiados goela abaixo, entremeados com valores religiosos que a salvou da derrota de viver alienada e recolhida para ir parar na cidade dos mortos vivos.

Então, entendi que os caminhos dos seres humanos são entrecortados por lágrimas e lutas, e que as pessoas que perambulam ali, naquela cidade dos mortos vivos tem esse destino porque estranhamente escolheram viver daquele jeito.

E que talvez seja certa a Diretora de escola que quer ignorar que exista um mundo onde a miséria anda de braços dados com a feiúra do mundo.

E que o jornal, que antes era símbolo de estar bem, se torcer, sai sangue, suor e lágrimas.

Que a vida não dá tréguas e que cada um cuide de sua porção, pois não se sabe a que hora seremos ceifados.

O coração sangrando, as mãos finas mas a alma calejada.

Os bancos escolares a livrou do cabo da enxada, da sobrevida infame que é a herança maldita dos que não tem capital cultural ou financeiro.

Ontem, entendi um pouco mais da vida.

E a compaixão por aqueles seres foi substituída por resignação e num assomo, preciso lutar para que a Dignidade, essa senhora ornada de boas jóias e bom perfume venha e faça comigo morada definitiva.



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