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sábado, 31 de outubro de 2009

A Invenção da Infância e a criança sem infãncia

SER CRIANÇA E TER ATITUDE INCOMPATÍVEL COM A INFÂNCIA






Ser criança é uma invenção da civilização contemporânea? Como se forma a ideologia da infância?

Será que há realmente uma infância?

Todas essas questões vêm à pauta quando ocorrem assassinatos cometidos por crianças.

Recentemente, no Jardim III Américas da cidade Assis, uma menina de 11 anos vitimou a outra colega de 6 anos de idade com golpes de faca.

Tal atitude não seria própria de uma criança com as características que atribuímos à infância.

Qualquer personalidade só poderia manifestar a intensidade de suas pulsões se atingidas o ápice das suas representações e concepções de mundo.

Ou seja, esse ápice seria o estado adulto, quando todas as nossas concepções estão amadurecidas e fundamentadas seja pelas teorias que conhecemos ou pela prática que vivenciamos.

Muito embora pelos estímulos recebidos pela sociedade com os estímulos midiáticos,( vídeo games, filmes inapropriados) qualquer criança poderá mostrar um traço de personalidade muito maduro para a idade, seja para o bem ou para o mal.

Existem comportamentos sendo exibidos todas as horas e que deixa surpresa e descontentamento.

A impressão que se dá é que os professores, pais, psicólogos e psiquiatras não podem controlar nada do que se passa na mente infantil e adolescente e pela proteção excessiva que é praxe nos dias de hoje, nos tornamos refém de nossas crianças, seja filhos ou alunos.

Essa referência, essa parte obscura de suas almas, aquilo que está preso nas amarras do subconsciente é uma porção daquilo que Sandra Maria Corazza, em seu livro, “ Infância e Educação” , (Ed. Vozes, 1998), chama de “criança maldita”.

Como Bruno Betelhem, em seu“Psicanálise de contos de fadas”ela se recorre a uma fabulação da Europa ocidental, a história do soldadinho de chumbo, que foi amaldiçoado com o seu amor pela bailarina.

“Por ser diferente de seus irmãos e também por amar demais, o soldadinho de chumbo fora amaldiçoado, posto a navegar no barco e condenado a morte pelo fogo.

Como referência a história, aproximando-a de um contexto real, Corazza rememora que no século XV, a Europa criara em sua paisagem imaginária, literária e pictórica, uma barca que levava os diferentes de uma cidade para outra, ou para lugar nenhum, a Narrenschiff, ou Nau dos Loucos.

Continuando o relato, ela registra que confiar os insanos aos mercadores e marinheiros, era encontrado um meio de torná-los prisioneiros no exterior, pois tais pessoas estavam entregues ao seu próprio destino.

Pode ser pensado que loucura e infância compartilham desse mesmo ritual de embarque em busca da Razão que se perde na noite dos tempos, como diz Foulcalt (1991:12).

Para retornar a verdade, a “criança maldita” e renegada, implicaria em uma vida de pobreza, cheia de afeto e de bons ensinamentos, ao crescer, se caracterizaria por assassinatos ou destruições por vingança, ou um pseudo reconhecimento como herói, de legendária força ou coragem, ou como soberano que traz para seus súditos toda sorte de venturas e felicidades.

Na realidade, como se indaga Corazza, se existe, qual é e como é dita a verdade dos infantis e da infância dos nossos dias?

Um comentário:

Carlão disse...

Ariano Suassuna diz que a criança, mesmo quando faz coisas ruins, não é má mas, inocente porque é inconsequente e está aprendendo sobre o mundo. Mas através de uma coação incutida por impressões erradas que a criança pode repetir, a maldade seria uma recompensa falsa à disposição da índole.