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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aumento por mérito da classe de PEB I e a pirâmide social

Fonte: Folha de São Paulo, 22/09/09



“ A história de Alda” Marília Pinto de Carvalho- Scielo



A real realidade. Patrícia e as escolas públicas do Estado ( e do município também.)



Paulo Renato disse que os salários dos professores vão ter alterações.

O que me preocupa e talvez o que preocupa a APEOESP é que esse aumento por mérito não vai ajudar todos os membros da classe.

Na perversidade das relações humanas e pedagógicas, apenas uma parcela vai ser beneficiada por essa medida.

Sei disso por experiência própria.

Quando poderia receber um aumento substancial por mérito, me tiraram a sala de aula e suspenderam o meu salário.

Até por que nem enxergam o que eu faço, a não ser para dar broncas e ameaçar a demissão.

Teria que ir trabalhar em São Paulo. Para mim, trabalhar em São Paulo seria o mesmo que trabalhar em Marte.Talvez os marcianos não sejam tão geopolíticos e exclusivistas.

Dois anos sem salário e agora há uma chance de ser demitida por abandono de cargo, com dívidas a perder de vista.

Quem conhece a história de Alda, do livro de Marília Pinto de Carvalho sabe do que eu estou falando.

A própria autora do livro já se refere a ela como de menos valia.

Vivemos em uma sociedade de classes.

Um pequeno trecho do artigo de Marília Pinto de Carvalho:

A professora

“Em 1996, com 45 anos de idade e 16 de experiência no ensino, Alda era a única professora negra5 da escola pesquisada. Era, também, a única de origem nordestina – nascera em Recife – e a única mãe solteira, com um filho de sete anos. Entre os demais professores e professoras daquela escola, apresentava uma qualidade de vida sensivelmente inferior, sendo a responsável exclusiva pelo sustento próprio e do filho, e ocupando-se, à tarde, com serviços de costura, para complementar o orçamento.


Esse conjunto de condições colocava Alda numa situação de isolamento dentro do grupo, embora poucas pessoas admitissem qualquer preconceito contra ela. A própria Alda comentava um distanciamento social, mas não falava abertamente sobre a cor de sua pele, e não punha o racismo como central em suas dificuldades de relacionamento com o grupo de professores e professoras:


Eu sinto uma relação péssima. [...] E eu estou achando um ambiente assim muito... burguês. Uma burguesia em termos financeiros, uma burguesia em termos de conhecimento. [...] Elas estão num pedestal lá na altura.”

Não me identifico com Alda, pois ela mesma não se dava valor e nem pensava sobre si e sobre o tratamento desumano que recebia da Escola e da sociedade.


O aumento por mérito e os cargos melhores sempre são dados para quem estão no topo da pirâmide.

Mas essa história de pirâmide não existe mais, me diriam.

Eu responderia que a perversidade das relações humanas atrapalha qualquer Projeto para melhorar o ensino.

Estou em uma situação que só vou voltar a acreditar no poder das pessoas de boa vontade que estão na Educação se tiverem sensibilidade suficiente para me entender e preservarem o meu emprego no Estado.

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