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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Uma lição de humildade


Uma lição de humildade

No velório do meu pai, eu o vi como se ele tivesse remoçado. Olhei com calma suas feições e ali, a despeito da sua morte trágica encontrei paz.
De todas as lembranças que eu tive naquele momento, lembrei-me que uma vez ele comprou um caderno universitário, de dez matérias.
Material inadequado para uma criança de 2ª série.
Ele foi devidamente repreendido pelo dono do caderno, meu irmão, e ficou um pouco desconcertado.
Respondeu que um dia um de seus filhos estaria em uma Universidade, assim como o seu sobrinho Wilson, filho da sua irmã, costureira, que já havia comprado uma casa na Rua General Osório, quase centro de Presidente Prudente, segundo suas palavras.
“... Ali aonde a Jacira mora, era tudo mato quando eu fui embora para S. Paulo, e agora está asfaltado, virou cidade e ela comprou uma casa, como dinheiro de sua costura...”
Para nós aquela possibilidade no momento era como se falasse que um dia iríamos morar em Marte.
Universidade era coisa para rico ou remediado, igual ao filho do japonês, dono do sítio, que sonhava fazer Administração de empresas e nos chamava de colonos. Colonizados.
Eu, na minha ingenuidade de criança, pedi ardorosamente a Deus, recém descoberto pelas lições de Helena, catequista, que um dia eu pudesse atravessar os portões de uma Universidade.
Por todos esses caminhos eu passei. Foi como se Deus tivesse me guiado.
Todas as ilusões estão morrendo. A própria universidade me mostrou um mundo inóspito, onde não cabem sonhos.
Mas eu continuo sonhando. Eu ainda sou aquela criança que amava seu pai a despeito de todas as suas falhas e do seu alcoolismo e que iria transformar em realidade o seu sonho.
Eu que ainda vou fazer Mestrado e Doutorado, para que se cumpra a promessa contida em uma música entoada atualmente por Padre Fábio de Mello: “À custa de uma enxada conseguiram ser Doutor”.
Foi na enxada que meu pai sustentou certo período de tempo seus filhos e filhas, antes que o alcoolismo lhe usurpasse a razão.
As ilusões morreram, mas o que era sólido ficou.
O amor ficou. A vontade de trabalhar e viver do suor do trabalho, lições preciosas ensinadas por meu pai ficou.
Em certa medida, apesar de seu vício, ensinou a maior das virtudes: a dignidade e o respeito próprio, a defesa de um ideal.
Paradoxal e práxico.
Mas é na práxis que se constrói a realidade do lutador e do construtor de sonhos, na Oficina de Jesus.
Jesus, filho de um carpinteiro ensinou uma lição de humildade hoje para Patrícia, filha de um lavrador.
E o lavrador ensinou a sua filha que por mais que pareçam impossível os sonhos se tornam realidade.








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