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quinta-feira, 23 de julho de 2009

A ètica da normalidade


...O direito de ser radicalmente diferente sem ser confinado por isso, a descoberta de que as instituições e a sociedade podem ser patogênicas a ponto de nos enlouquecer, o esforço para reconhecer a loucura na "normalidade da nossa vida coletiva e para enxergar o semelhante no louco"... (Folha de São Paulo,Ilustrada, 23/07, Contardo Calligaris);


Frequentemente leio a coluna da Ilustrada, pois os objetivos dessa coluna me escapam aos sentidos.Uma deficiência qualquer no meu processo incipiente de acomodação. Em momentos, há colunistas tecendo a sua teia da amargura, do descrédito ao outro, fazendo um perigoso jogo de espelhos, leituras deprimentes, mas que nem por isso perdem o seu valor reflexivo.

Em outros, há o Dr. Draúzio Varella, nos falando de saúde e de doença e assim por diante.

Hoje, Calligaris me fala das loucuras e da patogenia das instituições sociais.

Creio que existe um sentido nas suas palavras.

Reflito sobre a regulamentação dos funcionários do Estado na época de sua contratação e de suas atribuições.

Era praxe professores entrarem com um pedido de licença médica quando "perdiam" a sala de substituição. Era como um ato secreto.Todos sabiam que os docentes não estavam necessariamente doentes, mas que queriam preservar a sua vaga lá naquela escola de São Paulo;

Então a eles e a elas era concedido o afastamento sem prejuízo de sua remuneração.

Quando chegou a minha vez, com os pruridos da ética (desnecessária) simples que me move, hesitei.

Como poderia pedir uma licença sem estar doente de fato e de verdade,já que isso iria ferir até os meus princípios religiosos?

Dois meses se passaram, sem salário e com uma angústia que só era atenuada com o contato com as crianças.

(As crianças trazem uma paz quando a ouvimos e eu me torno também uma criança.)

As dívidas no Banco, o aluguel atrasado, a apreensão e busca do carro, a visita do oficial de Justiça...

A pressão no serviço, (de uma Diretora e de uma coordenadora que parecem não gostar de mim)e se instalou um quadro depressivo.

Agora poderia ousar pedir um afastamento.

E me foi negado.(Não é muito louco?).

Um ano e meio sem salário, com a casa nas costas, com quatro tartaruguinhas famintas.

Agora me convocam para punir-me com o prêmio de uma possível exoneração.CPD.

Coordenadoria de Procedimentos Disciplinares.

Depois de todo o sofrimento ( desnecessário),do nome "chujo", terei que arrumar um dinheiro alto para ir em Sampa para responder em doses cavalares um interrogatório sobre abandono de emprego.

Isso é uma loucura. Não seria mais simples ter deixado que eu desistisse na época da nomeação? Para que alimentar a minha esperança?

Para me punir, me excluir, me marginalizar... Tudo porque eu não sou boa o suficiente já que a minha origem é humilde?

Quanto à marginalização, defino que CPD poderia ser também Centro de Detenção Provisória.

Como uma depositária infiel, sei lá...

Quem abandonou quem? Quem ferrou quem?

Aposto que se forem examinar a minha ficha aqui, nesse ninho de cobras " educadas " assissenses, vão encontrar um amontoado de atas, dizendo que eu:

_Sou desorganizada e que não tenho planejamento;

_ Que há queixas da comunidade escolar a meu respeito;

_ Que eu emprestei o livro da Professora X e não devolvi;

O quanto isso é verdade? O quanto isso é pura maldade?

E quando eu fiz um excelente trabalho, quem anotou?Pois eu fiz ótimos trabalhos.

Graças a Deus que a Vera obedeceu ao princípio do seu nome: veracidade, verdade.

Para completar a loucura, eu um dia, gostaria de ser política, de ter um cargo político;

Os políticos são intocáveis. Em gênero, número e grau.





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