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domingo, 14 de junho de 2009

Escrita não veio de "fábrica"

Análise de uma reportagem Folha de São Paulo sobre a escrita e relatos da prática pessoal

Autor do artigo fonte: Hélio Schwartsman, Cotidiano, p. C1

Autora do comentário: RUIZ, R.Patrícia.

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Se o cérebro não foi projetado para a tarefa de alfabetizar uma pessoa, então todo conhecimento, bem como as funções cerebrais vão sendo construídas a priori.

Adquirir a linguagem, segundo o colunista, é mais fácil.

...“Para uma criança aprender um idioma, basta atirá-la numa comunidade que se fala a língua em questão.” (p. 2).Essa afirmação não tira o caráter “apriorista” da construção do conhecimento da aquisição da linguagem, pois os falantes seriam como “espelho” para a criança se basear e aprender a falar.

O autor continua parafraseando Noam Chomsky e diz que nosso cérebro já vem com um órgão da linguagem instalado.

Das ilusões que eu tenho, enquanto educadora, é familiarizar minhas crianças com uma segunda língua, para instrumentalizá-las melhor nesse mundo competitivo.

Ensinando algumas palavras em inglês para a Laís, a minha filha de seis anos, conclui que a criança tem uma facilidade em entender os signos lingüísticos de um idioma e que a plasticidade de seu cérebro é bem maior do que a minha, por exemplo, que estudo a linguagem inglesa desde os tempos idos, mas parece que o cérebro cansa quando o aprendizado fica mais difícil.

Considere-se que a Laís ainda está em processo de alfabetização e que leva meia aula, (as outras crianças também) pelo que parece para registrar apenas o cabeçalho na lousa.

Como ela ainda está se libertando da linguagem tatibitati ,( mas por espírito regressivo por causa de Arthur, o caçulinha, do que por dificuldades de pronúncia), em algumas palavras que envolvem sílabas complexas, como professora, (pofessora), até que ela fala bem uma palavra inglesa.

O processo de alfabetizar, segundo Schwartsman, não vem “naturalmente’, não é in natura.

Exige-se uma maturidade neurológica que vem por volta de cinco ou seis anos de idade.

A escrita é uma invenção moderna e rara. Nem todos os falantes escrevem seus códigos lingüísticos.

A fala do autor fundamentou a dificuldade que os adultos, em processo de alfabetização, possuem para se alfabetizar.

O distanciamento do método global para a aprendizagem baseada nos fonemas é grande.

Ainda não decidi qual é o melhor.

Na minha classe do Pré III, na escolinha da Assunção, apelei para todos esses recursos: a fonética e o construtivismo.

Claro que em doses planejadas e coordenadas. Inclusive, utilizei o que eu sabia do método Paulo Freire, a palavra chave, como boneca e bola, por exemplo. O que resultou disso é que a maioria das crianças saíram alfabetizadas.

O único caso que ficou no entre o silábico e o silábico alfabético foi um garoto que era sufocado pela super proteção da mãe.

A Supervisora Lourdes apenas comentou que era para as crianças alcançar esse nível (alfabético) apenas no segundo ano e se eu tinha caso de criança alfabetizada no Pré III é que eu tinha pulado várias etapas do aprendizado normal e que iria ser prejudicial para as crianças.

Como a Secretaria da Educação de Assis sempre tem a tendência de transformar o resultado dos meus esforços em vergonha, me tiraram a sala e a Lourdes simplesmente falou que eu não tinha perfil para alfabetizar.

Eu tenho uma tristeza no coração. A Laís não quer ser alfabetizada com uma orientação mais rígida.

Gosta muito de desenhar, (e como desenha bem), toda vez que eu pergunto a ela o que aprendeu hoje ela desconversa.

Apenas me diz que escreveu o cabeçalho e que isso demora bastante.

Tenho medo que na Escola Helena Pupim, estejam usando o método do “respeitar as etapas do aprendizado da leitura e escrita” e estejam adiando o aprendizado para o segundo ano.

De que forma isso pode prejudicar a minha filha?

A Laís, inclusive, gosta de escrever com letra cursiva. E essa prática também tem sido adiada.

Por que não deixam a criança seguir seu próprio caminho?

Sei que métodos inovadores é um perigo. Inclusive para os educadores.

Perdi umas sete crianças no Pré III de transferências. Alguns pais não concordaram com meu método de ensinar.

Nesse ano, antes da licença gestante, eu reencontrei a Geovana, que foi minha aluna no Pré III. Veio para a minha sala e me surpreendi com o domínio dela na escrita e na leitura.

Creio que eu colhi um pouquinho do fruto do meu próprio esforço. A Geovana tinha alguns erros para a fase, mas escrevia com paragrafação, alguma presença de pontuação e não tinha nenhum problema com a segmentação das palavras. Completamente alfabetizada e ortográfica.

Aprendi com outro aluno, (analfabeto funcional ) que as bases para a aquisição da lecto-escrita se dá no Pré III e se complementa no segundo ano. Complementa, aperfeiçoa.

A afetividade de me abraçar e dizer que ainda me amava se manteve.Não faltou nenhum dia na escola, até eu entrar em recesso.

Essa é a melhor recompensa para mim.

Concluo que um pouco da dificuldade dos adultos em se alfabetizar vem do condicionamento (vergonha, medo do ridículo, super exposição) e da ideologia.

Talvez haja uma pontinha de ideologia na própria notícia da Folha. Com certeza, deviam ter um aluno ou uma aluna branca que estão em processo de alfabetização na idade adulta.

Escolheram logo uma aluna negra para estampar a primeira página no Cotidiano. Valeu pelo lindo sorriso (de dentes brancos) que Sandra Lima ostenta.

Evidentemente, não há o que negar da dificuldade de conexões neurais em adultos, já que à medida que envelhecemos, perdemos células neurais.

Mas fico muito grata em saber que há um esforço no mínimo que seja para alfabetizar.

Por experiência própria, sei que até os alfabetizadores tem dificuldade de se encaixar nesse mercado do EJA, que ainda obedece aos princípios do coronelismo e do tráfico de influências.

Mas isso já é outra história...

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