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domingo, 21 de junho de 2009

Dona de casa, a missão

Dona de casa: a missão

Ao contrário da maioria, algumas mulheres escolhem cuidar da casa e da família

Maria Vianna

Bruno Dias
A figurinista Helen Pomposelli faz aulas para melhorar a culinária do dia a dia

A figurinista Helen Pomposelli faz aulas para melhorar a culinária do dia a dia

Amanhã é dia de festejar uma data pouco conhecida: o Dia da dona de casa. E, embora a homenagem seja uma forma de reconhecimento tardio, as famílias estão apenas começando a entender a enorme contribuição das rainhas do lar à sociedade. No Brasil, ser dona de casa ainda é uma escolha para poucas. A maioria das mulheres precisa trabalhar – ou para se sustentar ou para complementar a renda da família – e não pode se dar o luxo de ficar de fora do mercado de trabalho.

Mas, para quem pode optar, ficar em casa tem sido uma escolha cada vez mais viável. Embora existam 38 milhões de trabalhadoras no país, segundo o IBGE, cada vez mais mulheres estão decidindo percorrer o caminho inverso. Para os especialistas, isso se dá por conta das mudanças históricas e econômicas que vêm acontecendo no país. A professora de História Contemporânea Lená Medeiros, da Uerj, lembra que, ao contrário de outras décadas, hoje não existe mais tanta pressão sobre o destino que a mulher escolhe para si. “Ficar em casa para cuidar dos filhos não é mais visto como um desprestígio. Depois de conquistar seu espaço no mercado, muitas mulheres estão percebendo que há muito valor em acompanhar o crescimento dos filhos ou se dedicar mais à família, sem que isso seja percebido como machismo do marido”, analisa a professora.

A antropóloga Mírian Goldenberg concorda: “Atualmente, não há a rigidez dos anos 50, que obrigava a mulher a se casar e a ficar em casa cuidando dos filhos, nem o radicalismo do fim dos anos 60, época em que a mulher precisava se provar independente e lutava com ferocidade por igualdade no mercado de trabalho”. Para Mírian, nos dias de hoje não há um único movimento das mulheres, como nas gerações passadas, mas vários, e a sociedade começou a reconhecer que não existe um só modelo de ser mulher.

Prova disso é que as donas de casa invadiram a mídia e agora, em vez de serem retratadas como esposas recatadas e entediantes, são mostradas como mulheres charmosas, misteriosas e instigantes – na cama e fora dela. O ápice do frisson aconteceu este ano com a chegada do seriado americano Desperate Housewives – sucesso inesperado da rede ABC – no Brasil. Transformadas em símbolos sexuais, as atrizes do programa ajudaram a dar novo status à função de dona de casa. A popularidade da série estimulou pesquisadores a estudarem um ambiente comum, mas pouco falado: o caseiro. A curiosidade pelas rainhas do lar foi tanta que até a revista Playboy americana promoveu um concurso para achar as donas de casa mais bonitas do país e publicou um ensaio com as 12 finalistas, todas mães. Elas invadiram até o Orkut. Dezenas de comunidades pregam um retorno da Amélia e jovens recém-casadas admitem que têm apenas um sonho: ficar em casa para cuidar do marido e dos filhos.

Femininas e modernas

Foi-se o tempo em que ser dona de casa era o equivalente a ser escrava dos desejos do marido e dos filhos. Hoje, quem opta por ficar em casa estabelece regras claras de convivência em família. Foi o que aconteceu com a professora Alice Wanderley, 53 anos, que ao se casar aos 22 decidiu parar de trabalhar para se dedicar à família e desistiu de retornar ao mercado de trabalho depois da gravidez.

“Sempre fui muito caseira, adoro cuidar da minha casa e da família, mas sempre impus limites para que não me tratassem como uma escrava. Levar café na cama, por exemplo, é coisa que não faço. É muito engraçado: se cumpro com as tarefas da casa, dizem que não é mais do que obrigação e nunca sou elogiada. Agora se esqueço alguma coisa, a família não pára de reclamar”, revela Alice, mãe de três filhos, todos na faixa dos 20. Mesmo tendo amigas que se arrependem de terem parado de trabalhar, ela não pensa duas vezes quando diz que ficar em casa foi a melhor decisão. Ela lembra: “Nunca fui pressionada, mesmo na década de 70, quando era quase uma obrigação a mulher entrar no mercado. Meu marido, por exemplo, sempre deixou a decisão a meu critério”.

Para Alice, a questão principal é a mulher descobrir o que é bom para elas. “Importante é ter boa cabeça para não ficar se culpando a toda hora pelo caminho tomado. Eu estipulei regras familiares que me mantêm equilibrada e ensino à minha filha que há vários caminhos para a realização”, resume.

Mais atenção aos filhos

Pertencente à nova geração de donas de casa, a figurinista Helen Pomposelli, 34 anos, escolheu o caminho do meio. Embora trabalhe fora, ela optou por não ter uma babá cuidando da sua filha Francesca, 3 anos, nem uma empregada responsável por sua casa. Além de ter feito uma série de aulas de culinária, Helen investe de tempos em tempos em cursos que a ajudem a cuidar melhor da casa, cultiva uma horta própria na cozinha e planta temperos.

“Quando me casei, percebi que queria trazer mais qualidade de vida para mim e para minha família. Adoro fazer aulas que me tragam conhecimento e facilitem o dia-a-dia”, revela. Ávida por novidades, Helen procurou a consultoria Grão Semente, que ajuda donas de casa a aprenderem a fazer comidas saudáveis. O curso também ensina truques às empregadas, programa listas de feira ou de supermercado e dá dicas de preparo da mesa em ocasiões especiais.

Mesmo não sendo uma dona de casa típica, Helen se desdobra para dar total atenção à vida familiar. “ Como minha mãe sempre ficou em casa, eu achava isso muito legal. Aprendi a gostar de cuidar de pequenos detalhes e adoro levar a minha filha à feira”, conta a figurinista. Para a psicóloga Nina Bari, as mulheres que decidem parar de trabalhar por alguns anos ou que deixam suas agendas mais flexíveis para se dedicar aos filhos estão fazendo um bem enorme para as crianças. Segundo Nina, crescer com a mãe por perto faz uma diferença enorme para o bem-estar dos pequenos.

“Parar de trabalhar para cuidar dos filhos não é para todas. Mas quem pode, deve fazer isso, principalmente nos primeiros anos de vida do bebê, época em que a criança precisa muito de uma figura materna. As crianças se sentem mais seguras e amadas ao perceber que a mãe participa ativamente de suas vidas”, avalia a psicóloga.

Essa foi a escolha de Juliana Silveira, 22 anos, que se tornou dona de casa por acaso. Depois de ficar grávida de forma inesperada, ela decidiu parar de estudar para se dedicar plenamente à vida em família. Hoje, ela não se arrepende de se dedicar exclusivamente à filha Sofia, 1 ano e 10 meses, mas sofre com a pressão das amigas, todas em início de carreira. “Ser dona de casa nunca foi meu objetivo, sempre sonhei em ser uma executiva, ganhar dinheiro e ter independência. Mas depois que a Sofia nasceu, minha perspectiva mudou. Percebi que ficar sem trabalhar por alguns anos não fará diferença na minha vida a longo prazo. Às vezes, me incomoda a pressão das amigas, que consideram minha filha já grande e dizem que devo voltar ao batente. Mas, como posso me dar esse luxo, prefiro voltar ao mercado só quando ela estiver maior”, explica Juliana.

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