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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Meus mortos


Natal é uma época onde pensamos em todos aqueles que desapareceram da nossa vida, como uma fumaça.
Recordo-me da vó Maria, uma pessoa que não via há dois anos.Tive um sonho muito nítido com ela, e todos os seus parentes que já se foram, que pelos laços do casamento,  são meus parentes e  estão mortos também.
No sonho, eu conversava com ela e me revelou que já tinha morrido. Então, olhei em seus olhos e vi a face da morte. Olhos vazados, pele flácida, sem sinal de vida. E o que estava a minha frente era a essência do espírito animando aquele corpo já sem vida.
No dia seguinte, o telefone toca. Era um recado para irmos assinar  uns documentos para regularizar o espólio.
No cartório, fui comunicada que a vó tinha morrido em junho e que um parente  pensava que o outro tinha avisado e no final  ninguém avisou.
Fiquei estarrecida como se cumpre a passagem bíblica: no final ddos tempos, o amor esfriará no coração de muitos.
A vó Ruiz morreu e não pude ir me  despedir dela.



Melhor assim. o que eu quero guardar de lembrança são o cheiro de seus pães feitos no forno a lenha, e a habilidade e a destreza com a qual ela fazia tortellas, um pastel de pobre, frito com a massa de pão que fica crocante e gostoso.
O frango com quiabo que ela preparava também é um lembrança boa.
Quero lembrar-me da acolhida em sua casa, quando eu , grávida de três meses, cheguei para ficar.
Ali, na igrejinha particular do sítio, eu revivi cenas da minha própria infância, com todas as imagens de santos e santas e o rosário, mas a imagem de Nossa Senhora Aparecida preta e o sotaque mais espanhol que eu já conheci,nesse sincretismo de brasilidade com espanholadas.
 E o meu filho, hoje já rapazinho , floresceu em meu ventre, como floresceu o pé de maracujá, plantado pelo vô, (que também já se foi) , que eu observava, contente com os raios de sol lambendo a minha pele e a brisa tocando os meus cabelos, e o cheiro de café torrado feito por aquelas mãos boas e incansáveis já não me causava enjôo.
Dizem que foi um médico que comprou aquele pedacinho de chão, onde eu fui feliz, tive paz e descansei na segurança de um lar e no colo do meu Senhor, com a vó,que tinha o nome de sua mãe, Maria.
Abençoo os médicos. Muitos deles são criaturas de Luz.
E todos aqueles espanhóis que vieram me visitar em meus sonhos, estão agora junto com a minha amada vó.E ela matou a saudade de sua filhinha Francisca,  que morreu em uma fogueira de festa junina, (naquele sítio de Presidente Bernardes, herança de Franscisco Ruiz Torrencila) , aos sete anos de idade.
Assim é a vida., renascimento e morte, dor e amor,luz e sombra.
Eu não tenho medo dos meus mortos. Tenho amor e saudade.
Creio que na Glória de Jesus, vamos nos reunir na casa do Pai maior.
A Bênção, vozinha.
La bendicion, vocecita.





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