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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Nossa Senhora Aparecida e algumas construções

A mística feminina





Quando eu era criança, minha mãe, na sua simplicidade, sem recursos financeiros ou um aporte familiar, me entregou a mãe de Jesus, na linguagem contextualizada dela, a saber, Nossa Senhora Aparecida.

Disse que ela seria a minha madrinha e que tinha sido determinado que ela cuidaria de mim até o final da minha vida.

Isso me remete ao escravismo, onde os negros, no seu sincretismo religioso, elegeram alguns santos e santas como seus protetores, o equivalente ao Negrinho do pastoreio e o Padre Cícero do Nordeste do país.

Minha mãe, ela mesma uma descendente de escravos, assimilou pela tradição oral, os costumes religiosos e, como diria um Professor, o elo do xamã.

E eu recebi essa ordenação materna, como natural, contestando ela mais tarde, quando comecei a buscar uma religião que se adequasse as minhas concepções e aspirações.

Por ela, fui protegida em momentos cruéis e sem esperanças, onde Deus sempre me deu o livramento.

Em uma Igreja Evangélica, o presbiterianismo, foi me dito que todos os santos e santas do sincretismo religioso brasileiro são de origem demoníaca e inclusive, essa imagem que foi achada no rio na cidade de Aparecida, era um pedaço de uma imagem que tinha vindo pelo mar, de uma ilha africana e foi dessa maneira que se estabeleceu no Brasil o culto a Nossa Senhora Aparecida, uma heresia e uma blasfêmia ao ministério cristão.

Penso que esse filósofo presbítero viajou um pouquinho na maionese.

E eu, que estudo religião, por autodidatismo, não tendo o elã do esnobismo que acomete as pessoas estudadas, continuando a ser Patrícia da Silva Rodrigues, posso construir a minha teoria.

Vamos a ela.

A mística feminina no Brasil, centrada ao redor de Nossa Senhora Aparecida pode ter se originado em um momento onde houve a necessidade de combater todos os preconceitos de raça, credo, etnia, religião e que tais.

Foi através de uma origem humilde, e Maria, mãe de Jesus, que também foi alvo de preconceito em sua época, por ser judia e por ser mulher, pode querer ter se inserido no Brasil, sendo representada por uma mulher negra, de origem africana.

Outro dia, no Jornal Voz da Terra, li, numa coluna do espiritismo que quando desencarnamos, levados a presença de Deus, por Jesus e por Maria, somos julgados de forma igual, independente de nossa origem.

E me lembra também um filme brasileiro, onde Fernanda Montenegro é Nossa Senhora e Norton Nascimento é um Jesus negro, “O alto da Compadecida”.

Felizmente, é outra ótica de pensamento, livre dessa ética hegemônica, que o Jesus da civilização ocidental deve ser e aparenta ser branco, de olhos azuis e cabelos loiros.

Mas na realidade, segundo as pesquisas científicas, a vida humana começou na África e o primeiro ser humano era negro.

Infernais são essas construções totalitárias que são repassadas para o ethos social, onde o bom e o belo é o branco e o rico.

Achei mais alegria na barra da saia da minha mãe, me ensinando as primeiras letras, do que nos círculos sociais acadêmicos e religiosos onde existem algumas pessoas corrompidas pelas vaidades do mundo, cheias de ódio e de ambição, buscando o poder a todo custo.

Assim, eu Patrícia da Silva Rodrigues em busca da minha Identidade, originada de um sincretismo de raças, a negra e a branca, (minha bisavó paterna era loira de olhos claros) , me declaro simpatizante de Nossa Senhora Aparecida, mãe de Jesus no Brasil, representada pela imagem negra de uma santa, isenta do pecado da idolatria.

E declaro ainda que maior pecado é jurar pelo templo e o seu dinheiro (ainda que em cima da Bíblia) pois Jesus, o rei dos reis afirmou que o que vale mais é o que deposita sua vida em cima do templo, não o próprio templo.

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